Um novo relatório elaborado por economistas e cientistas da Comissão Econômica dos Sistemas Alimentares (FSEC, na sigla em inglês) apontou que transformar sistemas alimentares pelo mundo pode levar a benefícios que representam de 5 a 10 trilhões de dólares por ano. Trata-se do maior estudo da economia de sistemas alimentares já realizado.
De acordo com a Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), sistemas alimentares “envolvem todos os processos e atores envolvidos na produção, transporte, distribuição, armazenamento, venda, compra e consumo de alimentos, incluindo perdas e desperdício”. Segundo o estudo, os estragos causados pelo sistema alimentar atual podem ser responsáveis por perdas de 15 trilhões de dólares todos os anos, incluindo custos ligados à má nutrição, à mudança climática e a outros fatores.
No documento, os cientistas criaram dois modelos que representam os possíveis futuros para os sistemas alimentares: o caminho atual e o caminho da transformação. Se as coisas continuarem como estão, os economistas delineiam o que acontecerá até 2050, mesmo que políticos cumpram as promessas já feitas. O resultado: a insegurança alimentar deixará 640 milhões de pessoas abaixo do peso em determinadas partes do planeta, enquanto a obesidade crescerá 70% globalmente, afetando 1,5 bilhão de pessoas.
Além disso, esses sistemas continuarão sendo responsáveis por um terço das emissões de gases de efeito estufa, o que contribuirá para um aquecimento de 2,7ºC até o final do século em comparação com os níveis pré-industriais. Ainda, o relatório acrescenta que a comida é atualmente responsável pelo desmatamento de seis milhões de hectares anualmente.
Outro ponto trazido pelo documento é o de que alguns custos de saúde também estão ligados aos sistemas alimentares. Segundo o estudo, esse preço pode chegar a 11 trilhões de dólares todos os anos, ligados a doenças como diabetes, hipertensão e até mesmo câncer. Grande parte desses problemas está ligado a pessoas que vivem com obesidade, de acordo com o documento.
Uma importante conclusão do relatório é uma chamada para que países desenvolvam estratégias mais ambiciosas ligadas a uma transformação dos sistemas alimentares até o ano de 2050. Nesse sentido, ações consideradas positivas seriam a taxação de alimentos menos sustentáveis; a aplicação de subsídios a fazendeiros para produzir alimentos mais saudáveis e utilizar práticas sustentáveis; e o investimento em novas tecnologias agrícolas, a exemplo de inovações que possam aumentar a eficiência e simultaneamente reduzir emissões de gases de efeito estufa. Os autores apontam, ainda, que as mudanças devem ser cuidadosas para garantir que essas estratégias não deixem ninguém para trás, a exemplo da perda de empregos.
Para Steven Lord, do Instituto de Mudança Ambiental da Universidade de Oxford e um dos autores do estudo, a nova análise indica que, embora não seja fácil, a transformação é acessível em uma escala global, e o custo de não fazer nada representa um risco econômico considerável. “Se o sistema alimentar continuar como está, ele produzirá trilhões de dólares em custos econômicos evitáveis que limitarão o crescimento econômico futuro e o desenvolvimento”, afirma.