01.04.2024

Mudança climática pode alterar regiões e sabores de vinhos ao redor do mundo

Fatores como temperatura e umidade, os quais têm sido afetados pelo aquecimento global, podem influenciar quais locais têm as condições ideais para produzir a bebida
Foto: Kym Ellis/ Unsplash
Copo de vinho transparente com vista para o pomar durante o dia

Champagne, Bordeaux, Pinotage, Borgonha. Esses são alguns dos terroirs mais famosos do mundo, e algumas das regiões que podem estar em perigo por causa do aquecimento global. Um novo estudo do Instituto Nacional de Pesquisa para Agricultura, Alimentação e Meio Ambiente buscou criar mapas que mostram como a mudança climática está provocando alterações em locais conhecidos pela produção de vinho. A pesquisa foi baseada em levantamentos ligados aos efeitos da mudança climática na temperatura, precipitação, umidade, radiação e emissão de gás carbônico nas regiões produtoras de vinho.

De acordo com o documento, se o aquecimento global ultrapassar 2ºC aproximadamente 90% de todas os terroirs na costa e nas áreas planas da Espanha, Itália, Grécia e no sul da Califórnia podem se tornar incapazes de produzir vinho de qualidade em condições sustentáveis até o final do século.

O estudo também apontou que existe um risco “substancial” de que de 49% a 70% de todas as regiões produtoras de vinho perderem sua viabilidade econômica, a depender do nível de aquecimento global que enfrentarem. Os principais culpados seriam a seca excessiva e o aumento na frequência de ondas de calor.

Uvas são extremamente sensíveis a mudanças na temperatura. Muitos vinicultores estão recorrendo a inovações sustentáveis para tentar contornar o aquecimento global. Alguns exemplos são a redução no uso de água e o investimento em agricultura regenerativa.

No entanto, o fato de que a indústria é bastante fragmentada dificulta o processo, prejudicando o compartilhamento de práticas mais benéficas e úteis. Em 2023, a produção global de vinho caiu ao seu nível mais baixo desde 1961 conforme vinhedos sofreram com eventos climáticos extremos, segundo a Organização Internacional da Vinha e do Vinho – prova de que as novas técnicas podem não estar ajudando tanto quanto os produtores gostariam.

Se, por um lado, o aquecimento pode prejudicar determinadas áreas, por outro, temperaturas mais altas poderiam se traduzir em melhorias para outras regiões que também produzem vinho de qualidade, como o norte da França, determinadas partes dos Estados Unidos e do Canadá e a Tasmânia, na Austrália. Ademais, poderiam ser criadas regiões capazes de produzir vinho, em locais como Bélgica, Holanda e Dinamarca.

Terroirs costumam se localizar em latitudes medianas, onde o clima é quente o suficiente para permitir o amadurecimento da uva, mas não quente o bastante para acelerar o desenvolvimento precoce da fruta. Atualmente, a colheita na maioria dos vinhedos começa de duas a três semanas mais cedo do que há 40 anos, o que provoca efeitos nas uvas e nos consequentes estilos do vinho. Por exemplo: o aumento da temperatura pode mudar a acidez da uva, o nível de álcool da bebida e até mesmo o aroma do vinho. 

Assim, percebe-se que, devido à mudança climática, tudo pode mudar no universo do vinho. Desde o gosto da bebida até as áreas onde ela é produzida podem e devem sofrer grandes alterações conforme o planeta esquenta, deslocando os terroirs de locais tradicionais para países que, por enquanto, não têm reconhecimento internacional em relação à sua capacidade de produzir vinho.

Dessa forma, ao que tudo indica, é bastante provável que, no futuro próximo, vejamos vinhos belgas, holandeses e dinamarqueses nas prateleiras – e que seu sabor seja diferente das safras mais tradicionais.

“A mudança climática está mudando a geografia do vinho”, afirmou o autor principal do estudo, Cornelis van Leeuwen, professor de viticultura, de acordo com a AFP. “Haverá vencedores e perdedores.”

Jornalista formada pela ECA-USP e graduanda em Direito pela PUC-SP

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