26.01.2024

Startup de embalagens de mandioca aposta na demanda por opções biodegradáveis para substituir plásticos de uso único

Até 2032, o negócio das embalagens sustentáveis deve dobrar de valor, chegando a 211 bilhões de dólares
Foto: Já Fui Mandioca/ Divulgação
Potes biodegradáveis feitos de fécula de mandioca
Embalagens feitas a partir de fécula de mandioca podem virar adubo para as plantas em menos de 20 dias

A mandioca, um dos alimentos mais comuns no prato dos brasileiros, tem aplicação dentro de uma indústria um tanto incomum: a dos bioplásticos. Criados para substituir os plásticos de uso único, como talheres e copos descartáveis, o mercado das embalagens biodegradáveis segue a tendência global dos consumidores de optar por produtos ecologicamente corretos.

Um levantamento de 2022 feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que metade dos brasileiros verificam se a mercadoria que pretendem adquirir foi feita de forma sustentável. Enquanto isso, em 2019 esse percentual representava 38%.

“Uma pessoa que hoje procura uma embalagem está muito mais propensa a escolher uma opção ecológica do que ela estava há sete anos. Podemos dizer que o mercado evoluiu”, afirma o CEO da Já Fui Mandioca, Stelvio Mazza.

Fundada em 2019, a startup paulista é especializada na produção de embalagens feitas de fécula de mandioca, como potes, embalagens para delivery, bandejas e bowls. 

Ao mesmo tempo que o interesse e a procura crescem, o valor de mercado também. Até 2032, o negócio das embalagens sustentáveis deve dobrar de valor, chegando a 211 bilhões de dólares, segundo um relatório da Precedence Research. 

O aumento da demanda é um reflexo da conscientização sobre o tempo que levará para itens plásticos entrarem em decomposição na natureza após o fim da sua utilização. 

“Imagina que você vai tomar um sorvete que vai derreter em 30 minutos no calor e está usando um pote que vai durar 400 anos. Como o próprio nome diz, é descartável. Por que eu preciso de um material indestrutível?”, questiona Mazza.

Para o professor da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP), Antonio Félix, o novo mercado é promissor. “Ele veio para ficar, mas precisamos trabalhar além da questão dos biodegradáveis. Todo o sistema tem que ser transformado em conjunto”, diz.

O processo de descarte

Quase 40% de todo o lixo gerado no país teve uma destinação inadequada em 2022, conforme aponta um estudo realizado pelo Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil. Nesse sentido, pensar na destinação final do bioplástico é fundamental para que ele não faça parte do problema.

Para evitar o descarte incorreto, é preciso encaminhar as embalagens para usinas de compostagem, com condições apropriadas de luz, temperatura e umidade. Entretanto, a falta de espaços especializados na degradação dos bioplásticos é um dos motivos para que eles parem em aterros sanitários, contribuindo com a poluição.

No caso da Já Fui Mandioca, Mazza afirma que é difícil rastrear o descarte, pois o contato é feito diretamente com as empresas que irão usar os potes, e não com os consumidores finais. Porém, o empresário destaca que mesmo que a embalagem tenha um descarte inadequado, elas serão biodegradadas em qualquer situação, podendo virar adubo para as plantas em menos de 20 dias.

De acordo com Félix, ainda assim é necessário montar uma coleta seletiva para esses materiais, de forma que eles não se misturem com o plástico tradicional durante a reciclagem. 

“Quem produz o material tem que estar alerta para essa questão. Será que ele pode atrapalhar um outro polímero no processo de reciclagem? Como evitar isso? Se ele for para um aterro, uma usina de queima, ou de compostagem, tudo bem. Mas, se for para reciclagem e eu não conseguir distinguir de um polímero que estou reciclando, pode ser problemático”, afirmou.

Um futuro ainda mais verde

O mercado global busca implementar práticas sustentáveis em seus produtos. Desde 2021, a União Europeia proíbe a comercialização de cotonetes de plástico, talheres, pratos, canudos, palitos e recipientes para bebida, seguindo a Diretiva de Plásticos de Uso Único aprovada em 2019.

Contudo, um futuro dominado totalmente por materiais alternativos não é a resposta para resolver os problemas da geração de lixo. Isso porque a principal substituição para o plástico será em casos de curto período de utilização, como no caso dos descartáveis, que chegam ao fim da vida útil em poucos minutos.

Além de mudar o mercado, é preciso educar o consumidor para que ele exerça um consumo responsável – papel que requer o esforço das próprias marcas, segundo Mazza.

“Acreditamos que também é nosso papel educar e ensinar. E nós falamos para o nosso cliente que ele também tem o poder de replicar o conhecimento. Não é só por uma questão de ativismo, mas cada pessoa precisa entender o que ela está recebendo”, ressalta.

Enquanto os bioplásticos não forem um padrão no Brasil, é preciso pensar na forma como o plástico convencional é consumido e o seu uso em excesso no mercado.

“Em um primeiro momento, o que podemos fazer é tentar não perder esse material e promover a reciclagem. Ao mesmo tempo, precisamos pensar em como reduzir o volume de embalagens plásticas”, sugere Félix.

É estudante de jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e estagiária no Nosso Impacto

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