31.05.2024

Pássaros que comem frutas são essenciais para a recuperação de florestas tropicais

Entre 70% e 90% das espécies de árvores em florestas tropicais dependem da dispersão de sementes realizada por animais, diz pesquisa
Foto: Jan Meeus/ Unsplash
Pássaro cantando na árvore

Um novo estudo do laboratório Crowther na ETH Zurich aponta para o papel essencial dos pássaros em relação à regeneração de florestas tropicais. Baseada em dados coletados na Mata Atlântica brasileira, a pesquisa revelou que as aves que se movem livremente pela floresta podem aumentar o armazenamento de carbono dessas regiões em até 38%.

Florestas grandes e saudáveis funcionam como grandes depósitos de carbono, uma vez que árvores possuem a capacidade de remover CO2 da atmosfera por meio da fotossíntese. 

Assim, ao se aumentar a possibilidade de uma mata guardar gás carbônico, retiram-se maiores quantidades desse gás da atmosfera, mitigando os efeitos do aquecimento global, em se tratando de um gás de efeito estufa.

Espécies como o saíra-beija-flor, o sanhaçu-verde e o sabiá-laranjeira são responsáveis pelo consumo, excreção e espalhamento de sementes à medida que voam pelas matas. 

De acordo com o novo levantamento, entre 70% e 90% das espécies de árvores em florestas tropicais dependem da dispersão de sementes realizada por animais. Assim, percebe-se que esses animais são fundamentais para o plantio natural de novos espécimes de vegetais, ajudando a aumentar a riqueza das florestas.

Embora a importância das aves para o processo de recuperação de florestas já fosse conhecida, o estudo do laboratório Crowther teve como objetivo quantificá-la. A pesquisa, publicada no periódico científico Nature Climate Change, buscou comparar o potencial de armazenamento de carbono que pode ser recuperado em paisagens fragmentadas em comparação com paisagens mais contínuas. 

Como resultado, o levantamento indicou que a fragmentação pode restringir a movimentação das aves, reduzindo o potencial de armazenamento de carbono em até 38%. Pela Mata Atlântica, descobriram os cientistas, é crítico manter uma cobertura florestal de, no mínimo, 30%. Uma distância de 133 metros ou menos entre áreas florestadas garante que pássaros possam continuar se movendo pela região e facilitar a recuperação ecológica.

“Permitir que frugívoros se movimentem livremente por paisagens florestais é crítico para a recuperação saudável da floresta”, afirma Carolina Bello, autora principal da pesquisa. “Este estudo demonstra que, especialmente em ecossistemas tropicais, a dispersão de sementes mediada por pássaros tem um papel fundamental em determinar as espécies que se regenerarão.”

“Sempre soubemos que pássaros são essenciais, mas é marcante descobrir o tamanho desses efeitos”, complementa Thomas Crowther, coautor do estudo e professor de ecologia na ETH Zurich. “Se nós pudermos recuperar a complexidade da vida dentro dessas florestas, o seu potencial de armazenamento de carbono cresceria significativamente.”

A Mata Atlântica é uma das regiões mais diversas do mundo, abrigando aproximadamente 7% de todas as espécies de plantas do mundo e 5% de todos os vertebrados. Devido à agricultura e ao desmatamento, também se trata de uma das florestas tropicais mais fragmentadas do planeta, sendo que quase 88% de sua vegetação foi devastada ao longo dos últimos 500 anos.

Ao que indica a pesquisa, apostar na permanência das aves naquela região pode ser muito benéfico para a natureza, pois significaria a continuação do sistema de plantio natural de árvores e, portanto, a realização do potencial de armazenamento de CO2 pela mata, contribuindo para a luta contra o aquecimento global e mudança.

Jornalista formada pela ECA-USP e graduanda em Direito pela PUC-SP

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