O mercúrio é um metal extremamente tóxico. Apesar disso, o material é muito usado em garimpos para dissolver partículas de ouro que estão misturadas com pedras e areia.
Ao ser aquecido, a evaporação deixa o ouro como resíduo e gera grandes quantidades de vapor tóxico – estima-se que 650 a 1.000 toneladas por ano, ou um terço do total de emissões do metal. A contribuição brasileira é estimada em 10 a 30 toneladas por ano.
Apesar de tamanha gravidade na relação entre esse metal e o meio ambiente, medir a contaminação por mercúrio onde sua concentração é baixa ainda é um desafio.
Esse cenário levou a uma união entre pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) na criação de um novo método para quantificar mercúrio em amostras ambientais.
Os pesquisadores desenvolveram um modelo inédito de ajuste para a espectroscopia de emissão de plasma induzida por laser (Libs), instrumento capaz de quantificar rapidamente elementos químicos com pouca ou nenhuma preparação no material investigado.
Dessa forma, a análise consegue ser feita em menos de cinco minutos. Além de detectar vários elementos ao mesmo tempo, o modelo demanda apenas energia elétrica para operar. Com uma lâmpada de vida útil aproximada de quatro anos, o instrumento permite verificar mais de mil amostras por dia.
O artigo com os resultados da pesquisa foi coordenado por Paulino Ribeiro Villas-Boas, pesquisador da Embrapa Instrumentação, e publicado no Journal of Analytical Atomic Spectrometry.
Os participantes do estudo afirmam que o método é versátil e poderá ser testado também em peixes e outros produtos alimentícios. “Pode ser uma amostra líquida, sólida ou gasosa, embora a experiência que temos seja o trabalho com sólidos”, diz Carlos Renato Menegatti, professor da Escola de Engenharia de Lorena (EEL) da USP.
Em 2023, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelou que a mineração em terras indígenas na Amazônia Legal aumentou 1.217% nos últimos 35 anos. Quase a totalidade dessas áreas de garimpo ilegal, cerca de 95%, está concentrada em três terras indígenas: Kayapó, seguida pela Munduruku e a Yanomami.
Os cientistas também constataram que o garimpo tem causado aumento da concentração de mercúrio em peixes amazônicos – cerca de 21% acima do permitido de substância tóxica ao organismo humano.