27.3.2024

OMM: 2023 bate sequência de recordes negativos ligados à mudança climática

Dados são preocupantes, mas ainda há espaço para reverter as piores projeções com o investimento em energia limpa

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Sabrina Brito
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Cartaz: há apenas um planeta
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Markus Spiske/ Unsplash
Na média, em 2023 quase um terço do oceano global sofreu com ondas de calor

Um novo relatório da Organização Meteorológica Mundial apontou que, mais uma vez, recordes foram batidos em 2023 no que diz respeito a aspectos como os níveis de gases de efeito estufa registrados no planeta, as temperaturas superficiais da Terra e a acidificação e o calor dos oceanos. Além disso, o documento confirmou que o ano passado foi o mais quente na história desde o começo do acompanhamento.

Para o coordenador de política internacional do Observatório do Clima, Claudio Angelo, é importante medir os impactos da mudança climática por dois motivos. Primeiramente, porque é essencial aferir os sintomas de qualquer doença em um organismo. Sabemos que a febre, no ser humano, pode ser sintoma de infecção; a medimos para acompanhar a evolução da infecção. O mesmo ocorre com a mudança climática. Precisamos medir seus impactos para acompanhar o desenrolar dessa doença ambiental. Em segundo lugar, isso é importante para poder desenvolver planos de adaptação à mudança do clima.”

Alguns dos dados apontados pelo relatório são bastante alarmantes. Por exemplo: em um dia médio de 2023, quase um terço do oceano global estava tomado por ondas de calor, o que tem o potencial de prejudicar ecossistemas e cadeias alimentares. 

Ainda, o número de pessoas que sofrem com insegurança alimentar aguda mais do que dobrou, passando de 149 milhões de pessoas antes da pandemia da Covid-19 para 333 milhões de indivíduos no ano passado. 

Por fim, o nível médio dos mares bateu recorde, refletindo o aquecimento dos oceanos e o derretimento de geleiras árticas. “Sirenes estão sendo soadas em todos os grandes indicadores”, disse o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres. “E as mudanças estão acelerando.”

Eventos extremos

Talvez um dos mais notáveis reflexos da catástrofe registrada no documento seja a ocorrência cada vez mais comum de eventos climáticos extremos. Recentemente, por exemplo, o Brasil passou por consecutivas ondas de calor em todas as suas regiões, as quais frequentemente vêm acompanhadas de secas (e suas subsequentes queimadas) ou até enchentes. Já outros países têm registrado a ocorrência de ciclones tropicais. 

Uma das principais constatações que o estudo permite fazer é a de que ainda há muito espaço para avanço. Em termos de emissão de gases de efeito estufa, por exemplo, documentou-se que as concentrações de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso atingiram os níveis mais altos já vistos, batendo recordes estabelecidos um ano antes, em 2022. 

“O que precisa ser feito é um corte brutal na emissão de gases de efeito estufa. Não tem nenhuma saída fora disso”, afirma Claudio Angelo. “O problema é que, apesar de todos os avanços na adoção de metas, estamos muito longe do necessário. As emissões precisariam estar caindo, e continuamente as vemos subir. Isso é extremamente preocupante.”

Mas isso não quer dizer que não haja possibilidade de melhora. De acordo com o próprio relatório, existe uma ponta de esperança: a expansão de energias renováveis. No ano passado, a capacidade de geração desse tipo de energia – sobretudo de fontes solares, eólicas e hidrelétricas – cresceu quase 50% em comparação com 2022.

No Brasil, por exemplo, o crescimento das energias verdes tem sido notado às custas da energia hidrelétrica, considerada a mais popular no país. Segundo estimativas oficiais, esse tipo de energia, que hoje representa 53% da capacidade instalada em território brasileiro, em sete anos cairá para 42%, conforme reportado pela Folha de S. Paulo. 

Isso se deve, sobretudo, à migração de investimentos para outras fontes de energia, a exemplo da eólica e da solar, as quais se tornam cada vez mais acessíveis. Nesse cenário, estão sendo observados inclusive momentos em que as geradoras hidrelétricas são forçadas a desperdiçar água, a qual verte sem produzir energia alguma. 

Tempo de mudança

Dessa forma, ainda que o alerta vermelho tenha sido soado, é possível exercer certa mudança. Para isso, porém, é preciso agir agora e em grande escala, já que a mudança climática é um problema global e de ramificações econômicas, sociais e ambientais.

Para o professor associado do departamento de geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Francisco Aquino, há ciência, tecnologia e conhecimento suficientes para serem aplicados a essa situação. Mas essas ações precisam ser urgentes. Sabemos que há alternativas, e precisamos focar nelas”. 

“É importante que a sociedade compreenda que a natureza é a melhor tecnologia que temos contra a mudança climática. Preservar áreas remanescentes e ampliá-las é o que vai nos ajudar a, no futuro, ter condições adequadas novamente no planeta Terra”, disse Aquino.

Segundo o membro titular da Academia Brasileira de Ciências e atuante no Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), José Marengo, é preciso ter esperança. "Este é o planeta em que vivemos, o planeta que vamos deixar para nossos filhos e netos. Precisamos pensar em controle de danos e em adaptação climática. Isso nos permitirá diminuir a vulnerabilidade da população em relação à mudança do clima”.

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Sabrina Brito
Sabrina Brito
Jornalista formada pela ECA-USP e graduanda em Direito pela PUC-SP
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