Recentemente, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco Mundial anunciaram a destinação de R$ 9,3 milhões para ações de desenvolvimento verde no Cerrado, considerado o segundo maior bioma do Brasil.
A região vem apresentando sinais preocupantes em razão do desmatamento. Por isso, a iniciativa busca viabilizar 16 projetos diferentes e beneficiar aproximadamente 2.000 famílias de comunidades tradicionais, quilombolas e indígenas da área, com o objetivo de ajudar a preservar e restaurar a região.
O Cerrado é também o segundo maior bioma de toda a América do Sul. Apelidado de “savana brasileira”, o ambiente conta com enorme biodiversidade animal e vegetal.
Além do Brasil, onde se espalha por estados como Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, e Mato Grosso, o Cerrado abrange porções do Paraguai e da Bolívia. A região ainda é responsável pela água de cerca de 70% das bacias hidrográficas brasileiras.
Contudo, apesar de sua enorme riqueza, a área sofre com o avanço de pastagens ou áreas de cultivo, que ganharam espaço no bioma em detrimento da área vegetal natural, o que acaba por impactar todo o ecossistema.
Na última semana de setembro, o Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado publicou novas informações sobre a queda da vegetação nativa na fronteira agrícola entre Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia: de acordo com os dados, desde janeiro deste ano, 494 mil hectares da área foram afetados. Dos quatro estados, três apresentaram aceleração no desmatamento inclusive durante o mês de agosto.
Por enquanto, ao menos as queimadas, muito comuns na região, parecem ter dado certa trégua em 2023: a área queimada no Cerrado do Mato Grosso do Sul caiu 53,5% de janeiro até setembro em relação ao mesmo período do ano passado, segundo informações da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação presentes no informativo de Monitoramento de Incêndios Florestais.
Por outro lado, com o aumento das temperaturas no verão, a ocorrência de incêndios florestais na área pode se intensificar, sobretudo nos meses de dezembro e janeiro, conforme o El Niño atinge seu pico. A análise foi passada com exclusividade à Agência Pública.
Atualmente, fica claro que o Cerrado vive um impasse entre a produção agropecuária e a sustentabilidade. Se, por um lado, o embate pode parecer difícil de solucionar, por outro, já existem iniciativas nesse sentido.
Justamente com o objetivo de incentivar a expansão da agricultura sustentável, que gera menos impactos no meio ambiente, o mercado financeiro viabilizou a emissão de Certificados de Recebíveis do Agronegócio Verdes, os quais permitirão investimentos de cerca de R$ 232 milhões para a produção de soja na região.
Esses recursos objetivam financiar 122 propriedades rurais com juros inferiores à média, gerando, em troca, o compromisso dos agricultores de atuar conforme as regras do desmatamento zero em suas respectivas regiões.
Outras iniciativas ganharam força nesse sentido. É o caso da Plangea Web, plataforma grátis criada pelo Instituto Internacional para Sustentabilidade que visa instruir pessoas jurídicas na tomada de decisões em relação a ações de preservação.
Por meio de seu uso, é possível identificar os lugares mais importantes para se investir a depender do objetivo, a partir de informações como a vulnerabilidade de regiões e o risco de extinção de determinadas espécies.
Assim, o Cerrado está passando por um importante momento de definição, ao final do qual ficará claro se será possível conciliar o agronegócio com a sustentabilidade – ou se, melhor do que isso, encontraremos uma forma de aliar um ao outro e juntar o lucro e a sustentabilidade.