26.02.2024

O Brasil não escapará de ser uma potência no campo da energia renovável, diz engenheiro ambiental

De acordo com Odorico Konrad, o país ainda tem espaço para crescimento dentro do campo das energias verdes
Foto: Acervo pessoal/ Divulgação
O engenheiro Odorico Konrad posa em um laboratório
O engenheiro Odorico Konrad defende que evitar o desperdício é uma forma de gerar energia

Doutor em engenharia ambiental e sanitária, Odorico Konrad é formado pela Universidade de Leoben, na Áustria. Também é graduado em engenharia civil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Coordena o Centro de Pesquisa em Energias e Tecnologias Sustentáveis do Parque Científico e Tecnológico do Vale do Taquari, da Universidade do Vale do Taquari (Univates). Estuda, sobretudo, temas como energias renováveis, resíduos e saneamento ambiental.

Concorreu, em 2021, na categoria “melhor profissional” do Prêmio Melhores do Biogás, que visava reconhecer profissionais que foram destaque no setor naquele ano. Atuou, ainda, em 2022, em um projeto com o objetivo de auxiliar no desenvolvimento de conhecimento ligado a energias e tecnologias sustentáveis, com foco em biogás e biomassas. É considerado autoridade em temas como resíduos e energias renováveis.

Leia, a seguir, a entrevista completa com Odorico Konrad.

Quão grande é o potencial do lixo para a produção de energia no Brasil? Falemos do ambiente urbano. Nós, brasileiros, produzimos, em média, meio quilo de resíduos todos os dias, a depender do que se considera lixo. Se, em cada meio quilo, há 50% de orgânicos, estamos gerando uma quantidade enorme de resíduos orgânicos todo dia. Infelizmente, não aproveitamos muito bem esses milhões de quilos de resíduos. Tudo isso é descartado junto com outros materiais, tornando muito difícil a separação que permitiria a utilização desses resíduos orgânicos. Nesse sentido, os aterros sanitários podem ser vistos como grandes reatores, onde há depósitos enormes de orgânicos. Em alguns locais, aterros são fontes de biogás, mas ainda são muito subutilizados. O mais interessante seria separar o resíduo orgânico na sua origem.

O que falta para o Brasil ser ainda mais eficiente energeticamente? Olhando para a eficiência energética, percebemos que precisamos evitar desperdícios. Necessitamos de equipamentos e estruturas mais eficientes, em uma tentativa de proporcionar ao ser humano a energia que ele merece. Também não podemos deixar de pensar no conforto térmico, na necessidade de trabalharmos e descansarmos em ambientes termicamente agradáveis, o que é essencial. 

O Brasil é uma potência no mercado de energias renováveis? Os números mostram que somos de fato uma potência nesse mercado. O mundo ainda tem uma dependência de 80% em relação aos combustíveis fósseis. No Brasil, o número cai para aproximadamente 50%, o que nos torna parceiros estratégicos no campo da energia renovável. Ainda temos muito espaço para expandir, a exemplo dos sistemas eólico e fotovoltaico. Já somos uma potência, mas podemos nos tornar algo maior ainda. Esse crescimento das energias renováveis é parte da realidade brasileira, e independe do governo de um partido ou de outro. Nós não vamos escapar de ser uma potência no campo da energia renovável. Já somos, e seremos ainda mais, sobretudo no cenário internacional.

Em termos de saneamento, o Brasil atinge seus objetivos? É um cenário triste, uma vergonha. Falando de saneamento, é absurdo o que temos visto nos últimos 40 anos. As metas que visamos estão muito longe de acontecer. O IDH tem uma queda brusca quando levamos em conta o saneamento básico. A coleta e o tratamento sanitário deixam muito a desejar. A realidade atual, de um país urbanizado, permite ver que ainda há muito a fazer. É um trabalho gigantesco que precisa ser feito, um verdadeiro desafio. Mas o entendimento crescente das pessoas sobre o tema pode levar a maiores pressões a serem exercidas sobre o poder público, o que pode ajudar a situação.

De que maneira a formação ambiental se confunde com a evolução humana? A formação ambiental, neste momento, é muito mais interdisciplinar do que era há algumas décadas. Com o passar do tempo, fomos percebendo que a formação ambiental exige muito mais do que um entendimento de biologia, como era antigamente. A formação ambiental hoje não é mais pautada apenas em algumas áreas específicas, sendo considerada muito abrangente. Entendo que essa mudança veio nos últimos 20 ou 30 anos aqui no Brasil. Nesse sentido, a formação se confunde com a evolução do conhecimento humano.

Qual a importância de o público entender mais sobre ciência? Quando entendemos o que acontece na ciência, um fato se torna muito mais fácil de aceitar, e, consequentemente, eu me torno muito mais difícil de enganar com informações falsas. Não digo que todos nós precisamos ser cientistas, mas todos precisam entender o valor da ciência para saber separar o certo do errado, o verdadeiro da informação desviada. Entender e saber mais sobre o que os cientistas nos trazem sempre é interessante.

Jornalista formada pela ECA-USP e graduanda em Direito pela PUC-SP

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