31.05.2024

Lixo eletrônico: os avanços e os desafios para enfrentar uma crise global

Apenas 3% desse tipo de resíduo é reciclado no Brasil, o que gera impactos negativos para a economia e a saúde
Foto: Robin Glauser/ Unsplash
Fotografia flat lay da placa de circuito

A quarta edição do relatório “Monitor Global de Lixo Eletrônico”, publicado pela ONU em março deste ano, revelou que a quantidade desse tipo de lixo produzido no mundo superou a marca de 62 milhões de toneladas, o equivalente à distância entre Brasília e Lisboa, caso todas as peças fossem enfileiradas. 

Contudo, apenas 22,3% desse total é reciclado no mundo e a expectativa é que o percentual diminua ao longo do tempo, alcançando 20% em 2030, devido à lacuna crescente nos esforços relativos a esse tipo de reciclagem.

O aumento da disparidade entre a produção e a reciclagem do lixo eletrônico se deve a diversos fatores, como o aumento do consumo, a redução dos consertos e a obsolescência programada. 

Produção em escala

No caso da obsolescência programada, a prática é uma tendência de mercado destinada a fomentar o consumo e a movimentar a economia ao prever o fim da vida útil de equipamentos para que sejam substituídos por modelos mais novos. Porém, ela gera um desperdício desnecessário e obriga a sociedade, cada vez mais, a enfrentar os crescentes aumentos dos impactos ambientais. 

Além disso, a prática pode ser considerada como antiecológica no que diz respeito ao esgotamento dos recursos naturais e por causa do alarmante aumento da geração de resíduos.

O relatório também separa, entre as 62 milhões de toneladas de lixo produzidas, 31 milhões de toneladas de metais embutidos, 17 milhões de toneladas de plásticos e 14 milhões de outros materiais, como minerais, vidros e compostos.

Isso evidencia uma dependência por parte do mundo em relação a alguns poucos países capazes de produzir os chamados “elementos essenciais raros”. Esses metais são centrais para a produção de tecnologias e para o avanço delas, porém não são amplamente encontrados em todos os lugares. Ao mesmo tempo, eles também são parte vital da evolução tecnológica por viabilizarem a geração de energia mais sustentável.

A constante necessidade de equipamentos mais potentes e modernos, incentivada de forma recorrente na sociedade, é um dos maiores fatores para o crescimento da lacuna entre a produção de lixo e a reciclagem. Quando combinada a uma gestão ineficiente e à infraestrutura inadequada, ela gera, além da poluição, uma perda de milhares de dólares em recursos naturais que poderiam ser reutilizados. 

Realidade brasileira

A Associação Brasileira de Reciclagem de Eletrônicos e Eletrodomésticos (ABREE) ressalta que o descarte do lixo eletrônico costuma ser feito de maneira incorreta, o que prejudica toda a cadeia de sustentabilidade, além da economia. 

O relatório da ONU indica que os resíduos eletrônicos movimentam cerca de 400 bilhões de dólares por ano. No Brasil, a cadeia produtiva incentivada por um descarte correto poderia gerar até 10.000 empregos e mais de 700 milhões em receita. 

Além de não impulsionar a economia, há custos atrelados à má gestão. O mesmo relatório afirma que os gastos com saúde humana, diretamente relacionados ao lixo eletrônico, podem superar a marca dos 38 bilhões de dólares ao redor do globo devido a contaminações por metais pesados, entre outras substâncias perigosas.

No Brasil, a quantidade de lixo eletrônico reciclado é de aproximadamente 3% do total de 2,4 milhões de toneladas produzidas, número que coloca o país como o quinto maior produtor mundial de lixo eletrônico. Nas Américas, o Brasil fica em segundo lugar, perdendo apenas para os Estados Unidos.

Atualmente, no Brasil há pouco mais de 10.000 pontos de coleta de lixo eletrônico, número que deveria ser muito maior para suprir a demanda crescente pela reciclagem consciente. A ABREE recomenda que todo o descarte de lixo eletrônico seja feito através da coleta seletiva. 

Os equipamentos devem ser descartados inteiros, limpos e desconectados. Na coleta seletiva, a ABREE recomenda que o lixo seja dividido em quatro linhas diferentes: a branca, para os grandes eletrodomésticos; a marrom, para equipamentos de áudio e vídeo; a azul, para pequenos eletrodomésticos; e a verde, para computadores, acessórios de informática e celulares.

Estudante de Jornalismo na UEL e apaixonado por meio ambiente

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