Durante as duas primeiras semanas de novembro, lideranças globais se reuniram em Glasgow, na Escócia, para negociar formas de atingir as metas do Acordo de Paris, o principal tratado internacional para enfrentar a crise climática. Ao mesmo tempo em que é necessário desenhar políticas públicas e medidas econômicas para a descarbonização da economia, povos indígenas e comunidades tradicionais são aliados essenciais para manter o aumento da temperatura do planeta em 1,5ºC, como recomenda o Acordo de Paris, ou levá-lo a, no máximo, 2ºC.
O papel dos povos originários e das comunidades tradicionais é importante porque eles são reconhecidos guardiões das florestas. Essas populações manejam mais de um terço das florestas intactas do mundo, e 80% de toda a biodiversidade terrestre está nas suas terras. No Brasil, essas áreas protegidas são consideradas as mais preservadas do país, onde ocorre apenas 1,6% do desmatamento em território nacional. Dessa forma, com a floresta em pé, menos carbono é emitido na atmosfera.
Segundo um relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), “as florestas dos territórios de povos indígenas e comunidades tradicionais contêm quase 30% do carbono armazenado nas florestas da América Latina e 14% do carbono nas florestas tropicais do mundo.” Segundo o documento, esses territórios “armazenam mais carbono que todas as florestas da Indonésia e da República Democrática do Congo, os dois países com maior área de floresta tropical depois do Brasil”.
Por isso, lideranças de povos indígenas e de comunidades tradicionais vêm reivindicando a participação nos espaços de discussão sobre as soluções para enfrentar o aquecimento global. Para a COP26, cerca de 40 lideranças indígenas do Brasil foram a Glasgow, o que representou a maior delegação formada pelos povos originários em todas as COPs. Essas populações desempenham um papel fundamental para manter o aquecimento da temperatura do planeta em 1,5ºC — o que significa garantir a sobrevivência de países inteiros, como as nações insulares do Pacífico que correm o risco de afundar — e exigem, de forma cada vez mais incisiva, que os seus saberes e tradições sejam levados em consideração na estratégia global.