O Global Stocktake (GST), ou Balanço Global, é uma ferramenta decisiva para a concretização das promessas feitas no Acordo de Paris, em 2015, principal tratado climático adotado por 195 países.
Usado como base para os debates da COP28, a conferência do clima da ONU, o documento aponta possíveis caminhos que as nações devem seguir para atingir o objetivo de manter o aumento da temperatura global abaixo dos 2°C e, idealmente, limitada a 1,5°C até 2100.
Neste ano, o primeiro relatório que revelou como anda o desempenho global para combater a crise climática foi publicado. Em todos os tópicos, foi possível perceber que há progressos, mas que a sociedade está longe de evitar o aquecimento perigoso do planeta.
O balanço revelou que, até agora, os esforços têm sido insuficientes e que “é necessário muito mais em todas as frentes” para cumprir os compromissos de longo prazo do Acordo de Paris.
Apesar de parecer alarmista, o aviso é necessário. Um estudo divulgado pela ONU aponta que, mesmo no cenário mais otimista, a probabilidade de limitar o aquecimento global a 1,5°C é de apenas 14%. Sendo assim, os países devem juntar os esforços para reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa da atmosfera.
“Para manter o 1,5°C ao nosso alcance, devemos agir com ambição e urgência para reduzir as emissões em 43% até 2030. Acredito que podemos conseguir tudo isto ao mesmo tempo que criamos crescimento econômico sustentável para o nosso povo, mas temos que interromper urgentemente a situação atual e nos unirmos como nunca antes para passar da ambição à ação e do discurso aos resultados reais”, afirmou o presidente da COP28, Sultan Al Jaber após a publicação do balanço.
Como o Global Stocktake é produzido?
Realizado a cada cinco anos, o GST começou a ser produzido em 2021. Na primeira etapa, as informações foram coletadas pela ONU, que reúne os dados para fazer o levantamento.
Depois, há um período de avaliação dos resultados, incluindo diálogos nas Conferências do Clima da ONU. A última fase, da análise do levantamento, foi realizada na COP28 em Dubai, nos Emirados Árabes.
As conclusões serão discutidas de forma que seja possível orientar quais ações precisam ser adotadas pelas nações para combater a crise climática.
Apenas o Global Stocktake não muda a situação do planeta – na prática, ele é um grande inventário sobre a situação atual de políticas climáticas globais. Contudo, a resposta dos países participantes do Acordo de Paris às conclusões apontadas pelo GST fará a diferença.
“O balanço global acabará sendo apenas mais um relatório, a menos que os governos e aqueles que eles representam possam analisá-lo e, finalmente, entender o que significa e o que eles podem e devem fazer a seguir. É o mesmo para empresas, comunidades e outras partes interessadas importantes”, revelou o secretário executivo de mudanças climáticas da ONU, Simon Stiell.
Nova versão
Foi divulgado, durante o evento, um novo relatório do Global Stocktake, que retirou a menção à redução do consumo e produção de combustíveis fósseis. No texto, não há urgência de tomar qualquer medida nesta década.
“O presidente da COP enfraqueceu o pacote de energia a ponto de este não ser mais um acordo climático, mas sim uma vitória no placar do lobby dos combustíveis fósseis”, lamentou o Chefe de Política Climática Internacional Germanwatch, Peter Lydén.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, afirmou que o balanço deve reconhecer “a necessidade de eliminar gradualmente todos os combustíveis fósseis dentro de um cronograma”. Porém, essa transição deve levar em conta a realidade de cada país.
“As necessidades dos países em desenvolvimento altamente dependentes da produção de combustíveis fósseis também devem ser consideradas”, disse Guterres.
Para ele, essa adaptação precisa de recursos para ser colocada em prática.
“Duplicar o financiamento da adaptação para 40 bilhões de dólares até 2025 deve ser um passo inicial para a alocação de pelo menos metade de todo o financiamento climático para a adaptação.”
Além disso, o documento apontou que a eliminação do carvão é opcional. No entanto, sugere triplicar as energias renováveis e dobrar a eficiência até 2030.
Outro ponto não mencionado pelo relatório é a alimentação. O texto não faz referência à transformação de sistemas alimentares ou emissões da agricultura. Esse setor é responsável por 1/3 das emissões globais de gases de efeito estufa.
No início de setembro, a ONU divulgou os resultados preliminares do primeiro Balanço Global. O documento indicava que os governos deviam optar por fontes renováveis de energias, abandonar progressivamente o uso de combustíveis fósseis e duplicar a porcentagem de transportes livres de combustíveis fósseis, para pelo menos dois terços de todas as viagens de passageiros até 2030, a fim de frear a mudança climática.
Ao final da COP28, todos os países deverão reavaliar as suas próprias metas e ações, com o objetivo de se comprometer com um futuro sustentável e com o mínimo de emissões possíveis.
Ainda que o relatório tenha sido usado para apontar os fracassos das nações em reverter a crise climática, ele também pode ser usado como um lembrete para manter vivas as promessas estabelecidas no Acordo de Paris.