O Cerrado brasileiro é o bioma mais afetado por incêndios florestais na América do Sul. Agora, um novo estudo conduzido por cientistas brasileiros, publicado na revista Scientific Reports, propõe a criação de um sistema online para prevenção de incêndios no bioma.
O sistema utiliza imagens de sensoriamento remoto junto com dados de clima e relevo para simular a propagação do fogo. De acordo com a análise, o método apresentou uma taxa de acerto que chega a 89%, sendo um dos poucos do mundo com capacidade de prever a propagação de incêndios de forma quase instantânea.
A partir de determinada fonte de ignição, o sistema consegue prever a direção da propagação do fogo, a duração da queima, a área total que poderá ser queimada, o consumo de biomassa e as emissões de dióxido de carbono resultantes. O modelo incorpora as condições climáticas e o efeito de uma série de fatores originados pela atividade humana, como o zoneamento da terra e a proximidade de rodovias e áreas urbanas.
O sistema foi desenvolvido na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em parceria com pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
A pesquisa vem em boa hora: nas últimas semanas, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima realizou um seminário técnico-científico com especialistas na conservação do bioma para reunir informações que serão aproveitadas no novo Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento e Queimadas no Cerrado (PPCerrado).
No total, foram apresentadas 12 palestras com especialistas na conservação do bioma, incluindo sugestões apresentadas ao poder público para combater a devastação no Cerrado – tanto na questão das queimadas, quanto na questão do desmatamento.
O Cerrado abriga cerca de 33% da biodiversidade brasileira. Contudo, a derrubada do bioma vem crescendo ao longo dos últimos anos.
Somente no primeiro semestre de 2023, foram gerados alertas para 4.407 km² de desmatamento, 21% a mais do que o mesmo período do ano anterior e quase duas vezes mais do que o registrado para a Amazônia (2.649 km²). Segundo dados apresentados durante o seminário, 86% do desmatamento registrado no Cerrado em 2022 aconteceu de forma ilegal.