26.3.2024

Feira baseada em bioeconomia em São Paulo leva o Cerrado para o Sudeste

Equilíbrio entre uso e proteção da terra praticado por comunidades locais traz diversos benefícios para o planeta

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Sabrina Brito
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Dunas do Jalapão em Mateiros, no Tocantins
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aduarteweb/ Licença Creative Commons via Wikimedia Commons
Dunas do Jalapão

A Feira na Rosenbaum, realizada no Edifício Martinelli, mostrou como a bioeconomia pode entrar na casa das pessoas. No evento, que contou com uma iniciativa fruto da colaboração entre mulheres de três associações quilombolas do Tocantins, foi lançada uma série de esculturas feitas com capim dourado e buriti. Trata-se da primeira edição da feira no ano de 2024, com o apoio do WWF-Brasil, do Instituto A Gente Transforma e da Cooperativa Central do Cerrado.

A ideia principal do lançamento é usar os mesmos materiais e técnicas com os quais as artesãs já estavam acostumadas, porém em proporções maiores. Juntos, esses grupos trabalham pela conservação do Cerrado, bioma em que vivem, buscando construir sua identidade a partir dos produtos locais.

“A união dessas comunidades é essencial para reivindicar a fala das mulheres que vivem desse artesanato. É uma luta pela preservação do Cerrado unida à necessidade de geração de renda por parte dessas mulheres”, diz Marcelo Rosenbaum, fundador do Instituto A Gente Transforma, um dos apoiadores do evento. “O trabalho é de autoestima, de valorização do trabalho dessas pessoas.”

Nesse contexto, é relevante destacar a importância que as comunidades tradicionais têm no sentido de proteger a terra em que vivem. De forma geral, esses povos guardam e mantêm seus territórios originais, preservando os biomas e tirando da terra apenas o que precisam para garantir sua qualidade de vida.

Além disso, outro aspecto importante de feiras como esta é a possibilidade que ela oferece para que a biodiversidade ganhe valor agregado e mude a vida das comunidades responsáveis pela criação dos produtos. 

“Atualmente, o artesanato do capim dourado é fonte de renda para diversas artesãs da região do Jalapão”, diz Ana Carolina Bauer, analista de conservação do WWF-Brasil. “Normalmente, essa renda gera uma autonomia financeira importante para essas comunidades, grande parte das artesãs conseguem renda suficiente para manter suas despesas imediatas além de conseguirem proporcionar melhor qualidade de vida para suas famílias.”

Ainda segundo ela, a venda de produtos fruto da biodiversidade proveniente de comunidades tradicionais é uma maneira de representar uma fonte de renda que garanta que essas riquezas fiquem em seus territórios originais. 

“A venda de óleo de babaçu, castanha do baru, farinha de jatobá, óleo de buriti, artesanato do capim dourado e tantos outros produtos são meios de manter o bioma Cerrado vivo. Os produtos da biodiversidade seguem safras e essas comunidades automaticamente seguem o ritmo da natureza no seu manejo”, afirma.

Nesta edição da feira, está em evidência o bioma do Cerrado. O objetivo principal do evento é ampliar o mercado para as artesãs, ajudando-as a manter sua cultura em evidência e, consequentemente, a resguardar o ambiente do Cerrado. “Esses produtos trazem qualidade de vida e economia para todas as comunidades, proporcionando para nós outra visão do mundo lá fora”, conta Laudeci Ribeiro de Souza Monteiro, presidente da Associação Comunitária dos Artesãos e pequenos Produtores Rurais de Mateiros.

A importância da bioeconomia – aliança entre a criação de produtos e serviços sustentáveis e o uso de recursos naturais – não pode ser menosprezada. Um estudo da Associação Brasileira de Bioinovação com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) apontou que a bioeconomia nacional pode levar a um faturamento industrial adicional de 284 bilhões de dólares anualmente até 2050. 

Segundo estimativas do governo federal, o potencial de mercado da sociobiodiversidade (relação entre diversidade biológica e sociocultural) da Amazônia pode ultrapassar os 8 bilhões de dólares até o meio do século.

Sinal de que esse potencial tem sido notado é o fato de que, no final do ano passado, foi anunciado que iniciativas de bioeconomia e infraestrutura sustentável na Amazônia Legal devem render investimentos de 250 milhões de dólares nos meses seguintes. O valor seria destinado a uma linha de crédito específica para projetos de investimento. O anúncio foi feito em setembro de 2023 pelo Banco do Brasil em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Além dos pequenos produtores, há grandes empresas também interessadas na bioeconomia. A L’Oréal Brasil, por exemplo, tem apresentado projetos ligados à conservação da biodiversidade nacional. Por exemplo: desde 2014, o programa Fornecimento Solidário de Óleo de Babaçu Orgânico vem sendo implementado no Cerrado, em parceria com a cooperativa local Quebradeiras de Coco Babaçu, formada por trabalhadoras rurais que vivem do extrativismo deste produto. Em 2022, mais de 500 beneficiários foram impactados pela iniciativa.

A importância econômica do Cerrado também não pode ser minimizada, para além de sua vitalidade cultural, antropológica e social. Segundo um relatório apresentado durante o Fórum Econômico Mundial, um novo modelo que alia medidas de proteção ambiental e produção sustentável de alimentos pode gerar mais empregos e turismo na região, com o potencial de acumular 72 bilhões de dólares por ano para a economia brasileira até 2030 – e tudo isso com técnicas verdes.

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Sabrina Brito
Sabrina Brito
Jornalista formada pela ECA-USP e graduanda em Direito pela PUC-SP
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