06.03.2024

Desmatamento agrava o risco de malária em comunidades mais vulneráveis

Dados do Ministério da Saúde mostram que a doença atinge mais de 100.000 brasileiros todos os anos
Foto: Mithil Girish/ Unsplash
Um mosquito sentado em cima de um pedaço de papel

Mais de 100.000 brasileiros são afetados anualmente pela malária. Apesar de ser uma doença letal, uma pesquisa da Universidade de Vermont (UVM), publicada na revista GeoHealth, mostrou uma solução capaz de evitar que milhares de pessoas sejam infectadas: manter as florestas em pé.

Segundo o estudo, quando as florestas são desmatadas, é criado um ambiente propício para a reprodução de determinados mosquitos transmissores da doença. Nessas áreas, as condições socioeconômicas são mais precárias e as pessoas têm menos acesso a medidas e tratamentos adequados, o que aumenta a propagação. 

Dessa forma, além de servirem como uma proteção natural contra a transmissão de doenças, as florestas também ajudam a proteger essas comunidades.

“Para ter uma boa política de saúde pública, também é importante considerar a conservação ambiental – não degradar a terra e torná-la adequada para a reprodução de mosquitos”, afirma o autor do estudo e pós-doutorando no Instituto Gund de Meio Ambiente da Universidade de Vermont (UVM), Tafesse Estifanos.

O pesquisador analisou a influência da malária em seis países da África Subsaariana, onde a doença tem uma grande incidência. Dentre eles, a Costa do Marfim, a República Democrática do Congo, a Guiné, Moçambique, o Ruanda e o Togo. 

Os dados apontaram que quando as florestas são desmatadas, é criado um ambiente propício para a reprodução de determinados mosquitos transmissores da doença. Nessas áreas, as condições socioeconômicas são mais precárias e as pessoas têm menos acesso a medidas e tratamentos adequados, o que aumenta a propagação. 

“O desmatamento não afeta a saúde de todos da mesma forma”, destaca o diretor do Instituto Gund, Taylor Ricketts. “Isso nos ajuda a direcionar as intervenções para obter o máximo benefício para as crianças mais vulneráveis.”

Transmissão da doença

A água parada é um terreno fértil para a reprodução dos mosquitos, que se reproduzem em lugares como poças, baldes, garrafas e pneus de automóveis. No entanto, as florestas são um importante obstáculo para impedir que a transmissão ocorra, ao diminuir as chances de a água acumular em um só local, reduzindo o número de locais que os mosquitos podem se reproduzir.

“A vida das crianças depende diretamente de um ecossistema florestal que funcione bem”, destacou o coautor do estudo e professor da Escola Rubenstein de Meio Ambiente e Recursos Naturais da UVM, Brendan Fisher. 

“E a nossa análise aqui sugere que, mais uma vez, a conservação, pelo menos como próximo passo, parece beneficiar aqueles que têm menos probabilidades de poder pagar medidas de saúde alternativas – vacinas, mosquiteiros, água filtrada, idas ao hospital, antimaláricos”, completou.

Condições adequadas 

Além do desafio de não conseguir aplicar algumas das medidas capazes de reduzir as chances de contaminação, como melhorias na casa ou comprar mosquiteiros, as pessoas em condição de vulnerabilidade socioeconômica também enfrentam um outro problema que são as mudanças climáticas.

Isso porque o aumento de temperatura facilita a reprodução dos mosquitos. De acordo com o estudo, temperaturas mais altas estão altamente associadas à prevalência da malária em toda a região onde foi feita a análise.

“Anteriormente, havia apenas algumas áreas montanhosas adequadas para a reprodução de mosquitos ou para a malária”, disse Estifanos. “Mas hoje em dia, devido ao desmatamento e às alterações climáticas, a temperatura está aumentando, criando condições de reprodução mais favoráveis.”

“E as alterações climáticas não são uma questão local, e sim global”, concluiu.

“O foco deveria ser criar condições desfavoráveis ​​para que eles se reproduzam e sobrevivam.

Informações do Ministério da Saúde apontaram que, no Brasil, o local de maior incidência da doença é a região amazônica, registrando um total de 99% dos casos autóctones, ou seja, originados no mesmo local de onde surgiram. Ainda assim, a letalidade da malária nesta área é baixa, e o óbito acontece na maior parte das vezes em pessoas infectadas de outros países ou estados. 

 Diante dessas condições, manter as florestas em pé é uma medida fundamental não apenas em um contexto de mudanças climáticas e regulação do clima, mas também para proteger comunidades mais vulneráveis aos efeitos negativos que a falta de preservação pode gerar. 

É estudante de jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e estagiária no Nosso Impacto

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