12.03.2024

Complexo do Alemão terá observatório climático para monitorar aumento da temperatura

A região é considerada uma das mais quentes da cidade do Rio de Janeiro
Foto: Raúl Escobar/ Unsplash
Uma encosta coberta de muitas casas ao lado de uma floresta

Um dos maiores conjuntos de favelas do Rio de Janeiro, o Complexo do Alemão, na Zona Norte da cidade, contará a partir deste ano com um observatório do clima. A ideia é monitorar as temperaturas na região, que é considerada uma das cinco mais quentes da cidade.

Os dados recolhidos serão utilizados para montar políticas públicas que possam ajudar a população a enfrentar o calorão cada vez mais intenso no município. Dados do instituto europeu Copernicus mostraram que janeiro foi o mês mais quente já registrado na história. No Rio, as temperaturas chegaram a quase 42ºC e a sensação térmica foi de 59,5ºC, conforme dados do Sistema Alerta Rio.

De acordo com a secretária de Meio Ambiente e Clima da cidade, Tainá de Paula, será possível estabelecer soluções adaptadas à realidade habitacional da população com os dados recolhidos.

“Quais são as áreas prioritárias para atuação de postos de hidratação, se existem áreas possíveis para que se amplie a cobertura vegetal dessas áreas, seja com arborização, seja com novas florestas, enfim, para que se consiga observar, compreender melhor o território”, disse de Paula em entrevista à Agência Brasil.  

Os equipamentos de monitoramento serão financiados pela secretaria e o acompanhamento poderá ser feito pelos próprios moradores, que receberão uma bolsa-auxílio para contribuir com a medição em diferentes partes do território. Eles atuarão em conjunto com grupos de pesquisadores, representados por organizações que atuam no local, como a ONG Voz das Comunidades. 

“A gente quer entender como o Complexo do Alemão vai reagir às transformações climáticas e como a intensidade solar está atingindo o território, sabendo que não é um território tão arborizado, né?”, afirmou a diretora executiva do Voz das Comunidades, Gabriela dos Santos, em entrevista à Agência Brasil.

Risco climático

Para a professora do Departamento de Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Renata Libonati, a ação deve ser interpretada como um primeiro passo tomado para lidar com as altas temperaturas, que não devem ser vistas como algo normal.

“O calor é tratado como se estivéssemos acostumados a ele por sermos um país tropical. Na verdade, a gente acaba negligenciando esse evento como um desastre e, então, não são tomadas medidas efetivas de prevenção e auxílio à população”, disse em entrevista à Agência Brasil.

Segundo Libonati, é necessário que haja orientações sobre o que deve ser feito em situações de calor extremo. “O que fazer nessa onda de calor? Quem procurar? Os serviços médicos estão adaptados para receber? Os profissionais de saúde estão treinados para atuar durante esse evento de desastre? Onde a população deve procurar ajuda? O que a população deve fazer? Que tipo de ações devemos tomar em relação, por exemplo, às relações de trabalho?”

Por sua vez, a secretária municipal destaca que é preciso mais dados para saber como preparar a população.

“Será que não é o caso de nós suspendemos as atividades quando a temperatura atinge um número superior a determinados graus? São essas respostas que precisamos dar, e isso é possível quando se tem dados suficientes.”

A professora ressaltou que os impactos do calor extremo afetam principalmente territórios de favela, por não contarem com áreas arborizadas.

“Comunidades em que as casas são muito aglomeradas e a circulação do ar não permite também uma refrigeração natural faz com que essas pessoas tenham uma vulnerabilidade maior ao calor e isso faz com que a gente precise ter um olhar diferenciado para essa parcela da população.”

Cooperação internacional

O estudo realizado pretende ser usado como base para adotar em outros pontos do Rio, como o Complexo da Maré, Irajá e Campo Grande, na Zona Oeste. Com isso, os resultados deverão ser apresentados aos países que compõem o G20, reunião marcada para novembro na cidade do Rio. 

Para Tainá de Paula, essa é uma grande oportunidade para que os países vejam a necessidade de investimentos internacionais em estratégias tendo em vista como as mudanças climáticas vêm impactando a cidade carioca.

“No G20, vamos apresentar o balanço tanto de nossas emissões quanto de nossas ações para a minimização dos impactos das mudanças climáticas aqui no Rio de Janeiro. Nossa meta, até o G20, é estabelecer e realizar ações, mas também precisamos de recursos, já que não conseguimos fazer essas ações sozinhos.”

*Com informações da Agência Brasil.

É estudante de jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e estagiária no Nosso Impacto

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