Pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) avaliaram a incidência de dengue em diferentes microrregiões do estado de Minas Gerais, de 2010 a 2019, e descobriram que cidades com média de temperaturas mínimas diárias de 21,2ºC tiveram mais casos da doença. A análise, publicada na segunda (25) na revista científica “Cadernos de Saúde Pública”, pode servir para identificar regiões com maior risco de novos casos de dengue, a partir da temperatura mínima do ar.
A equipe fez um levantamento de variação de temperatura mínima diária do período de dez anos (2010-2019), em 66 microrregiões de Minas Gerais, associando-os aos casos de dengue. No trabalho, apenas 38 microrregiões foram consideradas, pois algumas não registraram casos suficientes para análise. Os dados dos casos de dengue são do DataSUS e os de clima são do European Centre for Medium-Range Weather Forecasts.
Os pesquisadores focaram o estudo nas médias temperaturas mínimas registradas durante a madrugada nestas localidades. A variação da temperatura mínima do ar foi bastante ampla, de 2,5ºC em Pouso Alegre a 26,5ºC em Frutal e Ituiutaba.
Minas é o segundo com mais casos da doença nos últimos dez anos. Em 2024, mais de 332 mil prováveis casos de dengue foram registrados em Minas Gerais até março, segundo fontes oficiais.
Segundo o trabalho, a incidência de dengue no período analisado foi menor em regiões mineiras com média de temperaturas mínimas diárias de 11,6 a 13,7ºC, classificadas pelos pesquisadores como temperaturas de frio extremo e moderado. Isso acontece porque a temperatura influencia no desenvolvimento da larva e do mosquito Aedes Aegypti, transmissor da dengue. Estudos estimam que a faixa de temperatura ideal para os mosquitos seja de 16ºC e 34ºC – e que suas larvas morrem em poucos dias em lugares com menos de 8ºC.
“A dengue é uma doença sazonal, mas cíclica [acontece de tanto em tanto tempo mais ou menos no mesmo período]. Sabemos que ela vai acontecer em algumas épocas do ano, mas é difícil saber como ela vai se comportar epidemiologicamente nos próximos anos”, avalia o pesquisador da UFJF João Pedro Medeiros Gomes, coautor do estudo. Para ele, a temperatura do ar pode servir de termômetro para prever casos de dengue e buscar focos do mosquito em um cenário em que o clima se tornará cada vez mais imprevisível.
Ainda assim, a temperatura mínima do ar não explica completamente a variabilidade de casos da doença nas regiões analisadas pelo estudo. A análise, por exemplo, não encontrou maior incidência de dengue em regiões com média de temperatura mínima diária excedendo os 22,4ºC. Para os pesquisadores, isso pode significar que fatores como densidade habitacional, urbanização e campanhas de saúde interferem na incidência da dengue — o que, no entanto, não foi analisado pelo estudo.
Para Gomes, além do clima, será preciso levar em conta fatores socioeconômicos e demográficos para combater surtos de dengue, mesmo no contexto das mudanças climáticas. “Ao influenciar as temperaturas, as mudanças climáticas podem ter impacto na incidência da doença, mas ela não vai gerar a dengue”, alerta o pesquisador.