04.01.2024

Ao menos 86% das espécies nativas de animais vertebrados do estado de SP estão em unidades de proteção

Pesquisa elaborou lista com espécies de anfíbios, mamíferos, aves e répteis presentes em unidades de proteção integral (UPIs) do estado de São Paulo
Foto: Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente/ Governo do Estado de São Paulo
Vista aérea para o Parque Estadual da Serra do Mar
Parque Estadual da Serra do Mar, uma das áreas de proteção ambiental integral do estado de São Paulo

As mudanças climáticas podem reduzir a distribuição geográfica de espécies de animais e plantas e, até mesmo, causar a sua extinção. Por isso, unidades de proteção integral (UPIs) como parques nacionais, estaduais e reservas biológicas têm um papel importante na proteção dessas espécies. No estado de São Paulo, essas áreas que representam 4% do território, o que corresponde a 10,5 mil km², e abrigam ao menos 86% das espécies de anfíbios, mamíferos, aves e répteis. Os dados são resultado de um trabalho do Instituto de Pesquisas Ambientais do Estado de São Paulo publicado na segunda (18) na “Revista do Instituto Florestal”.

A partir de uma revisão bibliográfica em mais de 240 publicações científicas, os pesquisadores encontraram o registro de mais de mil espécies de animais vertebrados terrestres no estado. Foi possível, então, elaborar uma lista com esses animais presentes nas 78 UPIs de São Paulo.

Os dados mostram as espécies ameaçadas de extinção e as restritas a determinadas regiões geográficas. Os inventários sobre vertebrados de cada UPI foram classificados pelos pesquisadores em representativo, preliminar ou inexistente, dependendo da quantidade de conhecimento presente das unidades — e mapas foram gerados a partir disso.

Os autores também avaliaram a relevância das UPIs, observando a extinção das espécies e planos de manejo para a conservação da fauna de cada unidade. Para Alexsander Antunes, co-autor do estudo e pesquisador do Instituto de Pesquisas Ambientais, o estudo demonstra os benefícios do investimento público em áreas de preservação. Ele poderia ser usado como base para aumentar o número de UPIs, priorizando áreas com maior risco de extinção de espécies, seja por meio de uma nova categorização de áreas já públicas ou pela incorporação de áreas privadas.

Além disso, os pesquisadores visualizaram as lacunas de conhecimento sobre espécies nestes territórios. Um exemplo de lacuna de informação nas UPIs é da ave aracuã-guarda-faca. Segundo Antunes, a espécie, inicialmente localizada também no Mato Grosso do Sul, já pode ser considerada restrita ao estado de São Paulo. No entanto, ainda faltam registros documentando a presença dela em UPIs. “Os relatos atuais da espécie são para o norte paulista, possivelmente na Estação Ecológica do Noroeste Paulista, apesar de não existir registro oficial nas publicações”, diz o autor.

De acordo com Antunes, “as identificações de espécies do estudo podem ser usadas para avaliar o impacto das ações humanas sobre a fauna, até mesmo em áreas protegidas”. O pesquisador espera que o estudo estimule ações de pesquisa e de conservação, como a implantação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) e de corredores ecológicos para a conexão entre áreas, além da restauração da vegetação nativa em locais de preservação permanente.

A inclusão de outras fontes de dados permitiria, também, que mais espécies fossem agregadas e a riqueza dos dados seria ainda maior. Os próximos passos são focar em estudos sobre uma classe de vertebrados específica, como as aves. “Queremos avançar nas pesquisas sobre elas nas UPIs cujos dados disponíveis foram classificados como inexistentes ou preliminares, o que demanda produção de novos dados para projetos ambientais de preservação dessas espécies”, conclui Antunes.

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