A Península Antártica, ponto do continente gelado mais próximo da América do Sul, é uma das regiões mais sensíveis ao aumento da temperatura média global. Nos últimos 50 anos, a temperatura da região aumentou em cerca de 3ºC, número que representa um ritmo dez vezes mais rápido em comparação com o restante do planeta. Além do impacto no derretimento de neve e de geleiras que compõem a paisagem da Península, a biodiversidade que habita a região, como as diferentes espécies de pinguins, orcas, elefantes-marinhos, entre outros, terá seu habitat natural transformado, o que pode representar um risco à continuidade das espécies na região.
Pinguins da espécie Gentoo (os mesmos da imagem que abre este texto) são considerados “vencedores” da mudança do clima, porque se adaptarem de forma mais maleável às alterações no ecossistema, enquanto o Pinguim-de-barbicha é considerado uma espécie “perdedora”, por sofrer mais com o aquecimento global. De acordo com um estudo publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences em 2019, as duas espécies se alimentavam, principalmente, de krill, um crustáceo do oceano austral, até meados de 1900, quando se verificou um excedente na população do animal por causa da caça de focas e baleias, que também se alimentam dele.
No entanto, a partir da segunda metade do século passado, os Gentoo deixaram de se alimentar exclusivamente de krill e passaram a comer também peixes e lulas. Por sua vez, os pinguins-de-barbicha continuaram a depender do krill em suas dietas. De acordo com o professor da Universidade de Rhode Island e co-autor principal do estudo, Kelton McMahon, “nossos resultados indicam que a colheita histórica de mamíferos marinhos e as recentes mudanças climáticas alteraram a teia alimentar marinha da Antártica no século passado”.
Além disso, segundo o pesquisador, “as diferentes dietas e respostas populacionais que observamos nos pinguins indicam que espécies como os pinguins-barbicha, com dietas especializadas e uma forte dependência do krill, provavelmente continuarão a ter um desempenho fraco à medida que as mudanças climáticas e outros impactos humanos se intensificam”. Mesmo em uma das regiões mais inóspitas do planeta, e no único continente do planeta onde não há uma população nativa, as ações da humanidade interferem na sobrevivência das espécies.