23.03.2023

Para promover o acesso à água, a natureza e cooperação são ferramentas essenciais

No Dia Mundial de Água, estudos mostram caminhos para solucionar o desafio de garantir um direito humano universal
Foto: Jonne Roriz
Imagem de uma vista aérea de águas serenas
Pantanal – 05/03/2018 – Press trip promovida pelo WWF Brasil com o tema Jornada da Água. Uma grande equipe formada por jornalistas, cientistas, pesquisadores e artistas acompanha o caminho que as águas do Rio Paraguai percorre, desde as nascentes até o Pantanal para discutir a importância da questão hídrica e chamar a atenção da população para os desafios enfrentados pelo bioma e a necessidade de uma Lei do Pantanal que proteja desde a planície à região das cabeceiras. Na foto cenas aéreas do Pantanal. Foto Jonne Roriz/Veja

Essencial para a vida, a água ilustra os efeitos da mudança do clima nos extremos. Pelo lado da falta, dois bilhões de pessoas vivem sem água potável e 3,6 bilhões de pessoas não têm acesso a saneamento básico, de acordo com dados da ONU. A população urbana global em risco de enfrentar escassez hídrica no futuro pode passar de 930 milhões de pessoas, com base em dados de 2016, para cerca de 2,4 bilhões de pessoas, em 2050. 

Em contrapartida, os momentos de abundância evidenciam os principais casos de necessidade de adaptação à mudança climática, conceito que significa preparar as cidades para os eventos extremos que estão acontecendo com mais frequência. Os primeiros meses de 2023 no Brasil foram marcados por chuvas intensas de Norte a Sul do país – o resultado foi visto em imagens de cidades alagadas, deslizamentos de terra e centenas de vítimas.

Ao mesmo tempo, o aquecimento do planeta causa o derretimento acelerado de geleiras, o que aumenta o nível do mar. Cidades litorâneas e pequenas nações insulares correm o risco de ficarem totalmente submersas nas próximas décadas. 

O problema está posto – há informações científicas suficientes para desenhar projeções e sinalizar o que precisa ser feito. No final de março, o IPCC, o painel da ONU para mudanças climáticas, publicou o relatório de síntese do Sexto Ciclo de Avaliação (AR6). As conclusões reforçam o que vem sendo dito por especialistas há anos: medidas urgentes precisam ser tomadas e a solução está no desenvolvimento resiliente ao clima.

A NATUREZA COMO SOLUÇÃO

Mesmo onde há a falsa sensação de segurança, como no estado de São Paulo, ações devem ser tomadas para proteger a população. No dia 22 de março, Dia Mundial da Água, a ONG ambientalista TNC Brasil divulgou o estudo “O Reservatório Invisível”, que exemplifica quais são as intervenções possíveis para aumentar o potencial de abastecimento do Sistema Cantareira, responsável por atender 7,5 milhões de pessoas na Região Metropolitana de São Paulo. 

A partir do conceito de soluções baseadas na natureza – que, como o nome sugere, são propostas inspiradas no funcionamento dos ecossistemas –, o documento mostra como plantar mais árvores, por exemplo, poderia ter influenciado na quantidade de água disponível em momentos de crise.

Segundo o estudo da TNC, “o reservatório invisível de águas subterrâneas do Cantareira teria 33% a mais de água em 2018 e durante a pior seca das últimas décadas, nos anos de 2014 e 2015, esse incremento poderia chegar 130%”.

De acordo com o especialista em Políticas Públicas para Água da TNC Brasil e coordenador do estudo, Claudio Klemz, os dados não podem ser projetados para o futuro, mas mostram o caminho para resolver um dos grandes entraves deste século. 

“O desafio é garantir disponibilidade hídrica em quantidade e qualidade suficiente para atender as atuais e futuras gerações em seus diversos usos e em uma realidade de rápida conversão de áreas naturais e mudanças nos padrões climáticos”, avalia Klemz.

COLABORAÇÃO VITAL

Para a ONU, a cooperação entre instituições com abordagens diferentes, como ONGs, universidades e agências públicas, é essencial para ter resultados positivos. O trabalho coletivo melhora a governança, estimula soluções inovadoras e impulsiona processos que são eficientes. A prática também promove o engajamento inclusivo, com diálogo e espaço para comunidades marginalizadas.

As conclusões fazem parte do Relatório Mundial de Desenvolvimento da Água, divulgado na véspera da Conferência da ONU sobre a Água. De acordo com o assessor científico especial do presidente da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Johannes Cullmann, “a cooperação é o coração do desenvolvimento sustentável e a água é um conector imensamente poderoso. Não devemos negociar a água, devemos deliberar sobre isso”.

Enquanto as soluções não chegam, o tempo fica cada vez mais curto para evitar consequências maiores. Com o aumento da escassez, a busca por água intensificará os fluxos de migrações forçadas e o surgimento de conflitos. No documento da ONU, a mensagem é clara: “a água inicia guerras, apaga incêndios e é a chave para a sobrevivência humana, mas garantir o acesso para todos depende, em grande parte, da melhoria da cooperação”.

Jornalista especializada em meio ambiente e sustentabilidade e cofundadora do Nosso Impacto

Gostou das histórias que você viu por aqui?

Inscreva-se para ficar sempre em dia com o melhor do nosso conteúdo.

Mais histórias em

Foto: Jonne Roriz/ Nosso Impacto
Dois anos após a criação do Marco Global da Biodiversidade, a conferência agora busca financiamento e ações concretas
Foto: Liliane Lodi/ Divulgação
A baleia-jubarte realiza longas migrações anuais entre locais de reprodução e áreas de alimentação
Foto: Jan Meeus/ Unsplash
Entre 70% e 90% das espécies de árvores em florestas tropicais dependem da dispersão de sementes realizada por animais, diz pesquisa