11.09.2023

Parceria entre USP e Embrapa cria técnica inovadora que quantifica mercúrio em questão de segundos

O modelo para detecção do mercúrio usa um instrumento capaz de quantificar rapidamente elementos químicos com pouca ou nenhuma preparação no material investigado
Foto: Divulgação/ Polícia Federal
Imagem de uma vista aérea de uma grande mina a céu aberto.
A Polícia Federal deflagrou operação para combater a extração ilegal de ouro e crimes ambientais no Pará.

O mercúrio é um metal extremamente tóxico. Apesar disso, o material é muito usado em garimpos para dissolver partículas de ouro que estão misturadas com pedras e areia. 

Ao ser aquecido, a evaporação deixa o ouro como resíduo e gera grandes quantidades de vapor tóxico – estima-se que 650 a 1.000 toneladas por ano, ou um terço do total de emissões do metal. A contribuição brasileira é estimada em 10 a 30 toneladas por ano.

Apesar de tamanha gravidade na relação entre esse metal e o meio ambiente, medir a contaminação por mercúrio onde sua concentração é baixa ainda é um desafio.

Esse cenário levou a uma união entre pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) na criação de um novo método para quantificar mercúrio em amostras ambientais. 

Os pesquisadores desenvolveram um modelo inédito de ajuste para a espectroscopia de emissão de plasma induzida por laser (Libs), instrumento capaz de quantificar rapidamente elementos químicos com pouca ou nenhuma preparação no material investigado. 

Dessa forma, a análise consegue ser feita em menos de cinco minutos. Além de detectar vários elementos ao mesmo tempo, o modelo demanda apenas energia elétrica para operar. Com uma lâmpada de vida útil aproximada de quatro anos, o instrumento permite verificar mais de mil amostras por dia.

O artigo com os resultados da pesquisa foi coordenado por Paulino Ribeiro Villas-Boas, pesquisador da Embrapa Instrumentação, e publicado no Journal of Analytical Atomic Spectrometry.

Os participantes do estudo afirmam que o método é versátil e poderá ser testado também em peixes e outros produtos alimentícios. “Pode ser uma amostra líquida, sólida ou gasosa, embora a experiência que temos seja o trabalho com sólidos”, diz Carlos Renato Menegatti, professor da Escola de Engenharia de Lorena (EEL) da USP.

Em 2023, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelou que a mineração em terras indígenas na Amazônia Legal aumentou 1.217% nos últimos 35 anos. Quase a totalidade dessas áreas de garimpo ilegal, cerca de 95%, está concentrada em três terras indígenas: Kayapó, seguida pela Munduruku e a Yanomami.

Os cientistas também constataram que o garimpo tem causado aumento da concentração de mercúrio em peixes amazônicos – cerca de 21% acima do permitido de substância tóxica ao organismo humano. 

Samantha é caiçara, jornalista e colaboradora freelancer.

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