12.10.2023

Bioma Pampa, restrito ao Rio Grande do Sul, recebe investimentos para combater a degradação ambiental

Em apenas 37 anos, a região perdeu cerca de 34% de sua área original, o equivalente a aproximadamente 65 vezes o município de Porto Alegre
Foto: Marcos Nagelstein/MTur Destinos
Imagem de um campo grande com vacas pastando.
Pampa em Bagé (RS).

O Pampa sul-americano, região tradicionalmente conhecida por suas gramíneas e clima subtropical com quatro estações do ano bem definidas, enfrenta ameaças que colocam em risco a sua biodiversidade. Ao longo das últimas cinco décadas, o bioma sofreu com intensas inundações que geraram grandes danos na região.

Em novos estudos, especialistas apontam a agricultura intensiva como a maior culpada pelas consequências sentidas no bioma. Isso indica que a expansão das terras de produtores rurais tem relação direta com o número de inundações, cuja área afetada dobrou nos últimos 40 anos.

O Pampa – ou Pampas – abrange regiões da Argentina, Brasil e Uruguai, e é responsável por sustentar alguns dos melhores solos para plantio de todo o planeta. No Brasil, o bioma está restrito ao estado do Rio Grande do Sul. Nele, vivem raras e diversas espécies de fauna e flora, e ele é conhecido, principalmente, por ter largas áreas de vegetação baixa e grande quantidade de cabeças de gado.

Apesar da riqueza natural, o bioma sente os efeitos da ação humana, situação que demanda equilíbrio entre ações sustentáveis e ganho financeiro. O Pampa sofre, principalmente, com o avanço da agricultura de grãos e das pastagens cultivadas, além do uso exagerado de agrotóxicos.

Em apenas 37 anos, a região perdeu cerca de 34% de sua área original – o equivalente a aproximadamente 65 vezes o município de Porto Alegre, conforme levantamento do Mapbiomas.

De todos os biomas brasileiros, o Pampa é o que apresenta a menor proporção sob alguma forma de proteção. Segundo pesquisadores da Universidade Federal do Pampa, a tendência é que o bioma desapareça em 2043 se o ritmo de ocupação atual continuar.

Para evitar esse cenário, o poder público começou a buscar soluções. As transformações do bioma causam desde o desalojamento de pessoas até a destruição de infraestrutura e áreas produtivas.

Recentemente, a Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura do Rio Grande do Sul, estado tomado pelos Pampas, informou que o projeto Recuperação de Biomas receberá R$ 1,5 milhão de empresas privadas instaladas no estado que operam por meio da compensação ambiental.

O objetivo é beneficiar 167 propriedades rurais que lidam com o meio ambiente de forma sustentável, em uma tentativa de ampliar as ações verdes na área. Ao longo dos próximos cinco anos, o bioma deve receber o repasse de R$ 15 milhões para programas de recuperação e conservação do Pampa, valor mais alto já previsto para o projeto.

No dia 17 de agosto, uma parceria entre a Câmara dos Vereadores de Gramado e a Secretaria da Cultura resultou na apresentação da exposição Sobreviventes do Pampa, cuja meta era destacar a importância dos povos e comunidades tradicionais da região, que desempenham importante papel na preservação dos usos e costumes tanto culturais quanto da terra.

O Pampa é lar de oito grupos: indígenas, quilombolas, familiares pecuaristas, ciganos, pomeranos, povo de terreiro, pescadores e benzedores. A exposição também aponta a função desses povos como guardiões do ecossistema local, em contraponto aos grandes latifundiários que são parcialmente responsáveis pelas mudanças observadas na região ao longo dos anos.

Percebe-se que o Pampa está passando por um importante momento de definição. Porém, é importante lembrar que não há tempo de sobra para que boas práticas sejam adotadas: segundo os cientistas, restam apenas 20 anos para que o bioma desapareça completamente.

Jornalista formada pela ECA-USP e graduanda em Direito pela PUC-SP

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