O ano de 2023 caminha para ser o mais quente da história, de acordo com a ONU. No Brasil, uma sequência de ondas de calor mostra os efeitos práticos das consequências de temperaturas extremas. Nos sete primeiros meses deste ano, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP) registrou um aumento de 102,5% nos atendimentos ambulatoriais e internações por causas relativas à exposição ao calor em comparação com 2022. Foram 312 no período deste ano e 154 no ano anterior.
A tendência é que temperaturas extremas afetem cada vez mais pessoas. Entre 2000 e 2016, o número de pessoas expostas a ondas de calor aumentou cerca de 125 milhões, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Ainda que o calor seja prejudicial para todos, algumas pessoas são mais afetadas do que outras. De acordo com o Membro da organização internacional Healthcare Without Harm (HCWH) e presidente do conselho da ONG brasileira Projeto Hospitais Saudáveis (HSP), Vital Ribeiro, pessoas com pressão alta e doenças cardíacas podem ser mais vulneráveis ao calor. Isso porque o aumento excessivo de temperatura pode causar uma crise em quem apresenta doenças de risco.
Impactos desiguais
Para o médico, o calorão é prejudicial principalmente para indivíduos em situação de vulnerabilidade socioeconômica. “As pessoas não estão expostas ao calor da mesma forma. A gente sente o calor de uma maneira, mas as pessoas que moram em favelas, onde a casa tem uma laje exposta ao sol e a parede não tem isolamento térmico, são muito mais afetadas. Isso é muito complicado porque elas também têm menor acesso ao serviço de saúde. Muitas vezes, são obrigadas a ficar em casa porque na rua é perigoso”, explica.
Diante dos recordes de temperatura mensais, é normal existir o incômodo. Mas em que ponto ele passa a ser um problema de saúde? Um trabalho apresentado em julho na Escócia, no Reino Unido, sugere que temperaturas entre 40ºC e 50ºC começam a alterar a energia destinada para o funcionamento do organismo.
Além de questões físicas, o calor extremo deixa as pessoas mais irritadas e deprimidas, o que gera consequências na saúde mental, segundo um artigo de 2018 publicado na Nature Climate Change.
De acordo com o estudo, o acréscimo de 1°C na temperatura média mensal nos Estados Unidos aumentou a taxa mensal de suicídios em 0,68%. “Os índices de suicídios diminuem quando um determinado local ou mês esfria, e aumentam quando o mesmo lugar aquece”, pontuou o líder do estudo e economista de Stanford, Marshall Burke.
A pesquisa também constatou que essa variação teve impactos no uso de linguagem depressiva nas redes sociais. “Uma hipótese é que as altas temperaturas alteram diretamente o bem-estar mental dos indivíduos, talvez devido a efeitos colaterais da termorregulação”, completou Burke no estudo.
Cuidados extras
Por isso, estar preparado para os efeitos climáticos extremos é algo mais do que fundamental. O Ministério da Saúde divulgou uma série de recomendações para evitar o efeito nocivo do calor, como usar protetor solar, roupas leves que não retêm calor, repousar frequentemente em locais com sombra fresca e arejada e evitar exposição ao sol em horários de pico.
Além disso, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) mostra o que pode ser feito caso sintomas de exaustão por calor comecem a aparecer. Primeiro, é necessário parar todas as atividades físicas, chamar uma ambulância e ir para um lugar fresco para facilitar o resfriamento do corpo.
Ainda segundo a instituição, é preciso ficar alerta para os sinais mais graves da insolação, como, por exemplo, a pele quente, vermelha e seca, temperatura corporal acima de 40ºC, dor de cabeça latejante, perda de consciência ou coma e pulso rápido e forte.
A frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos têm sido causados pelo aumento na temperatura global. No entanto, os cientistas concordam que um aumento de 2ºC é considerado o máximo que o planeta pode tolerar sem que haja o agravamento global da insegurança alimentar e hídrica.
Os efeitos da crise do clima podem ser percebidos em diferentes regiões do planeta, e combatê-la requer um plano de ação conjunto entre os países. No final deste mês, será realizada a 28ª edição da Conferência das Partes (COP28) em Dubai, nos Emirados Árabes. Na reunião, os países-membros da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (UNFCCC) farão uma análise das emissões de carbono que cada um está lançando na atmosfera e também vão discutir possíveis medidas a serem tomadas para estabilizar as concentrações de gases do efeito estufa. Com isso, será possível rever metas não alcançadas e reformular propostas que busquem evitar o agravamento de eventos climáticos extremos.