05.02.2024

Lontras-marinhas ajudam na recuperação de estuário californiano ameaçado por caranguejos, afirma estudo

A reintrodução do predador no ecossistema gerou benefícios para a região, que estava em colapso por falta de vegetação costeira
Foto: Anchor Lee/ Unsplash
Lontras-marinhas
A erosão das margens dos estuários diminuiu 90% devido ao aumento da população de lontras-marinhas

Reintroduzir predadores em um ecossistema pode não parecer uma boa ideia quando se fala da manutenção de espécies no meio ambiente. No entanto, um estudo publicado pela revista Nature mostrou que a reinserção de lontras-marinhas no estuário de Elkhorn Slough, localizado no centro da Califórnia, ajudou na recuperação das margens deste ambiente aquático.

Para embasar a tese, os cientistas observaram a mudança ocasionada no estuário com o aumento da espécie, que passou por um declínio populacional durante séculos e voltou a reaparecer no seu antigo habitat na década de 1980.

A vegetação estava praticamente perdida, passando por um grave processo de erosão causado pelos caranguejos da região que se alimentavam das plantas típicas do estuário.

“Os caranguejos comem raízes de pântanos salgados, escavam o solo desses pântanos e, com o tempo, podem causar a erosão e o colapso desse ecossistema”, explicou o autor do novo estudo e professor associado de biologia na Universidade Estadual de Sonoma, Brent Hughes.

Ao se alimentar dos crustáceos, as lontras ajudam na preservação da vegetação marinha, já que as plantas costeiras criam raízes nas margens dos rios, dificultando o processo de desgaste da área costeira.

“Custaria milhões de dólares para reconstruir essas margens de riachos e restaurar esses pântanos. As lontras-marinhas estão estabilizando gratuitamente em troca de um banquete de caranguejo à vontade”, disse o professor de biologia da conservação marinha na Universidade Duke, Brian Silliman.

A importância dos estuários

Estes ambientes aquáticos estão na zona de transição entre o mar e o oceano e, em geral, se encontram nas áreas tropicais.

Além de servirem de abrigo para os peixes, crustáceos, aves e plantas, os estuários também podem servir de alimento, armazenamento de carbono e proteção da região costeira. 

Lontras em extinção

Os comerciantes de peles caçaram a população local de lontras até quase a sua extinção. Os sobreviventes restantes foram expulsos pelo desenvolvimento de outras atividades humanas. Enquanto isso, a população de caranguejos de Elkhorn Slough explodia. 

Mas a proibição internacional posterior sobre a caça, as tentativas de conservação e a reintrodução das lontras em seus habitats contribuíram para um repovoamento da espécie.

Cascata trófica

Assim como as lontras-marinhas, o lobo-cinzento, que se alimenta de cervos, passou por um processo de diminuição da sua população no Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados Unidos. Com isso, o número de cervos disparou. 

Porém, o aumento súbito desta espécie causou uma maior perda da vegetação local, potencializando o efeito negativo no meio ambiente ao diminuir a quantidade de carbono armazenado pela floresta, a diversidade de plantas e também de animais.

Em 1995, a reintrodução dos lobos no parque permitiu que algumas das áreas anteriormente devastadas pelos cervos se reflorestassem, o que aumentou a absorção de carbono da floresta, mudou o curso dos rios e fez crescer as populações de animais que ali viviam. 

O efeito dominó causado pela redução de predadores de topo de cadeia não fica restrito somente aos lobos. Um estudo publicado pela revista Science mostrou que a diminuição na população de grandes felinos no Utah, nos Estados Unidos, levou ao aumento de cervos, o que, de novo, ocasionou a perda da vegetação, mudanças nos rios e a queda na diversidade biológica.

Conforme mostrou a pesquisa, até agora a erosão das margens dos riachos e das margens dos pântanos diminuiu 90% pelo aumento da população de lontras-marinhas.

“Isso levanta a questão: em quantos outros ecossistemas em todo o mundo a reintrodução de um antigo predador de topo poderia produzir benefícios semelhantes?”, questionou Silliman, da Universidade Duke.

É estudante de jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e estagiária no Nosso Impacto

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